Do interior do Espírito Santo a Harvard: a trajetória inspiradora de Gelson Ferreira, ex-aluno da UFES-Alegre

Publicado em 07/05/2025
Texto: Marianne Alves da Silva
A trajetória acadêmica de Gelson Ferreira de Souza Junior é um exemplo poderoso de como dedicação, apoio institucional e vontade de transformar a própria realidade podem levar a voos altos — até mesmo aos laboratórios da renomada Universidade Harvard.
Natural de uma cidade vizinha a Alegre, Gelson ingressou no curso de Geologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), campus de Alegre, em 2014, motivado inicialmente pela promessa de altos salários que a área oferecia na época do boom do petróleo. No entanto, sua conexão com o curso se aprofundou muito além dos números. “Os momentos mais marcantes foram, sem dúvida, as atividades de campo, nas quais tive a oportunidade de associar a prática aos conceitos teóricos abordados em sala de aula”, relembra.
Desafios financeiros e o apoio institucional
A caminhada até o diploma, no entanto, não foi fácil. Vindo de uma família de baixa renda, Gelson enfrentou dificuldades financeiras significativas durante a graduação. “Muitas vezes me vi preocupado com a possibilidade de precisar desistir dos estudos para buscar um emprego”, conta. Foi graças aos programas de auxílio estudantil, monitorias e projetos de Iniciação Científica oferecidos pela UFES que ele conseguiu seguir em frente.
Gelson também destaca a importância das pessoas ao seu redor. “Minha família — tanto a de sangue quanto a de coração — e os amigos que fiz ao longo dessa jornada foram fundamentais. Me acolhiam em suas casas na véspera das atividades de campo para que eu não perdesse o ônibus”, recorda, emocionado. Professores também tiveram papel crucial ao incentivá-lo a participar de monitorias e projetos que fortaleceram sua formação.
Da UFES para o mundo: uma jornada acadêmica de sucesso
Após a graduação, Gelson ingressou no mestrado em Geofísica na USP e hoje cursa o doutorado na mesma instituição. Atualmente, realiza um estágio internacional em Harvard, nos Estados Unidos, onde desenvolve pesquisas inovadoras com o microscópio de diamante quântico — tecnologia de ponta utilizada para estudar materiais magnéticos em microescala.
“Minha área de pesquisa é relativamente nova e está em constante evolução. A possibilidade de explorar novos conceitos e métodos me motiva todos os dias”, afirma. Seu trabalho, embora de impacto social mais indireto, contribui para o avanço do conhecimento científico em geociências, especialmente no campo do paleomagnetismo.
Futuro, representatividade e conselhos para os que vêm depois
Gelson mantém o sonho de se tornar professor universitário e já se prepara para concursos públicos.
Ele acredita que sua formação na UFES foi fundamental para sua carreira. “A graduação me proporcionou uma base sólida na área de Geociências e desenvolveu meu pensamento crítico”, avalia.
Quando questionado sobre representatividade em sua área, ele afirma se sentir representado, embora reconheça a necessidade de atualizações nos currículos dos cursos, especialmente nas disciplinas de programação. “É algo cada vez mais exigido pelo mercado e ainda muito defasado nas grades atuais”, observa.
Para quem hoje trilha os corredores do campus de Alegre, Gelson deixa um conselho sincero e valioso: “Aproveitem ao máximo as oportunidades de aprendizado e não tenham medo de buscar novas experiências. E, se possível, aprendam inglês o quanto antes — muitas portas se abrem com esse diferencial.”
A história de Gelson é prova de que, mesmo diante de obstáculos, é possível construir um caminho de sucesso a partir de uma universidade pública no interior do país — com coragem, esforço e apoio. Uma trajetória que inspira e mostra o poder transformador da educação.